Serão hoje os eventos artísticos capazes de nas dizerem alguma coisa que nos toque verdadeiramente, uma espécie de Art-from
the heart povoado de uma verdadeira fabulação, mitificação, adoração. Veja-se o caso do cinema e o interesse público nas notícias
acerca dos seus intervenientes [actoras, realizadores, argumentistas, etc.]. Acusado pelos sectores mais vanguardistas, como sendo
portador de uma atitude revivalista, saudosista, o cinema ao inequivocamente reflectir o espírito dos heróis, o desejo e
reencontro com a aventura, os deslocamentos entre forças do bem e do mal, etc, parece constituir-se como espécie de informação pura,
intrometido sabiamente numa prática constante, funcional e preponderante de manutenção/ fabricação de um código cultural
do "possível", de uma qualquer verdade. Esta herança cultural dos séculos passados fez dele a arte mais popular do nosso tempo.
A outra arte [em especial as descendentes das artes plásticas] deve pois, reconciliar-se com a cultura activa [entendida como a própria
actualidade / realidade], necessariamente dentro do próprio sistema da informação e da comunicação entre massas, da possibilidade
de se relacionar com o mundo, transformado numa "espécie" de inteligência colectiva [levy], suportado pelas estruturas dinâmicas
próprias de contemporaneidade. Necessariamente de forma diferente do cinema. Entre o impasse gerado pode formular-se uma
pergunta - a sua verdadeira integração activa só poderá exercer-se sob a tirania das "massas" e das necessidades de distracção destas,
como acontece no caso do cinema referido? De não procurar no passado uma verdade original tocadas que estão de perfeição, mas
na própria actualidade, naquilo que ainda não é lei, sem medo da experimentação. A questão diz respeito à sua própria
sobrevivência, pois é preciso lutar contra a sua dissolvência [artística] em mero conhecimento filosófico, esse sim, longe
de tudo e de todos.

Pedro Cabral Santo